A entrada no Brasil de duas novas drogas contra a hepatite C --doença sem vacina e cujos tratamentos atuais são de baixo sucesso-- pode representar uma mudança na vida das 3 milhões de pessoas infectadas no país.
Já usados na Europa e nos EUA, o telaprevir e o boceprevir foram aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O telaprevir, mais recente, recebeu o aval da agência neste mês, e o boceprevir, em julho.
A expectativa é que as drogas estejam disponíveis na rede pública em 2012.
A terapia usada hoje, a combinação das substâncias interferon e ribavirina, alcança uma média de cura de 50%. Entre os contaminados com o genótipo 1 do vírus, o mais presente no Brasil e também mais resistente, a expectativa de cura cai para 40%.
Os novos medicamentos são chamados de inibidores de protease. Eles impedem a replicação do vírus.
FIM DA RECAÍDA
Com as drogas, a taxa de cura sobe para 75% em pacientes não tratados e 88% nos que tiveram recaídas após a terapia tradicional.
O empresário Dante Caddeo, 57, faz parte do grupo de beneficiados. Desde 1998, quando recebeu o diagnóstico de hepatite C, enfrentou vários ciclos de tratamento. A infecção sempre voltava.
As recaídas só pararam depois que ele participou de uma pesquisa sobre o novo tratamento, feito pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas em parceria com a FDA (agência americana que regula medicamentos).
"Levo uma vida normal. Estou curado", diz o empresário. Embora Caddeo afirme que quase não sentiu efeitos colaterais durante o tratamento, que durou um ano, seu caso é uma exceção.
A dona de casa Josefa Pereira da Silva, 61, que também participou do estudo, conta que sofreu muitos inconvenientes. "Sentia muitas dores. Em alguns dias, não dava para levantar da cama."
COQUETEL
O medicamento usado na pesquisa, o telaprevir, é ministrado em conjunto com a terapia convencional (interferon e ribavirina).
A literatura médica mostra que essa dupla causa centenas de efeitos colaterais, como febre, dor de cabeça, depressão, tosse, cansaço, convulsão e irritabilidade.
"A adição de um novo medicamento traz mais efeitos colaterais, mas eles são contornáveis. Não se deve achar que a cura é pior do que a doença", diz Roberto Focaccia, infectologista responsável pelo estudo no Emílio Ribas.
Segundo ele, estamos diante de uma "revolução" no tratamento da hepatite C. "Daqui a dez anos, já teremos 100% de cura."
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia, Raymundo Paraná, a situação está longe do ideal.
"Não estamos diante de uma revolução, pois ainda não poderemos prescindir do interferon e da ribavirina com seus efeitos adversos."
Um terceiro remédio tem tido resultados promissores. Aprovado nos EUA, o alispolivir tem uma vantagem importante sobre as drogas que vão entrar no mercado brasileiro: funciona contra o três principais genótipos do vírus da hepatite C, não só contra o tipo 1. O remédio aguarda liberação da Anvisa para ser testado no Brasil.
Fonte: Bol
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